terça-feira, dezembro 06, 2005

O tempo ..... tão longe e tão perto ....

Querido Paizinho

Faz hoje exactamente 16 anos em que foste pela primeira operado.
Lembro-me como se fosse ontem, dos sinais da minha rebeldia de miúda, incrédula e insegura, de passar por toda essa situação agarrada a uns copinhos de absinto que me deixaram mais para lá do que para cá.

Talvez fosse esse o meu refúgio, a maneira que tive de me abstrair da minha tristeza. A bebedeira..... estamos longe, o tempo parou ali, vivemos num mundo alienado, somos a sombra da nossa própria existência. O bater do coração acelerado, como se fosse explodir, onde os sentimentos são apenas uma mistela de confusões, vemos apenas uma névoa, imagens vagas, que confundidas com a música (pois há sempre música....) distorcem toda e qualquer noção que tenhamos da realidade.

Assim andei uns tempos, mas depois passou-me. O resto não interessa. Adiante.

Interessa que no dia seguinte acordei, assim um pouco anestesiada, e fui ver-te ao hospital.
Todas as minhas forças se concentraram nesse momento, único, nesses dias tristes mas em que a família se juntou, mais do que sempre, para tentar levar-te sorrisos e esperanças, brincadeiras e palhaçadas, deixando para mais tarde o correr das lágrimas, já no leito das nossas almofadas.

Hoje são 16 anos passados, e não consigo esquecer esta data. Porque é que o tempo me leva tantas memórias e não me leva esta angústia que teima sempre em aparecer, mesmo quando não sou eu a chamá-la?