sábado, março 18, 2006

O dia do pai é todos os dias.

Querido Paizinho
E porque o dia do Pai deve ser todos os dias, amanhã recuso-me a vir sequer espreitar a este blog.
Porque me enerva.
Todos os anos, tento fingir que não existe para não ter de me lembrar deste dia, para que seja mais um no meio dos outros, para que não me aperceba da realidade deste dia que para nada serve a não ser para, mais uma vez, me encher a cara de lágrimas porque não o posso comemorar.
Mas por muito que tente, não consigo. As montras das lojas cheias de cartõezinhos, recadinhos, prendinhas especiais para o pai, as conversas à minha volta sobre os jantarinhos planeados, as surpresas que alguns vão fazer, enfim.... tudo isso me deixa aborrecida e triste, com vontade de fugir para bem longe.
Pudesse eu esconder-me nesse dia, voar para outro planeta, e deixar cá a nostalgia, que é diferente daquela nostalgia diária porque me é imposta.
Eu que já tinha dito que não gosto nada de dias feitos para isto ou aquilo, tenho de gramar com este dia. Mas que não deixa de me tocar.
O meu amor paterno é único, diário, está em todas as coisas que faço, protegido pela tua memória que me acompanha em tudo, protegido por ti, onde quer que estejas.
Até neste blog, porque sempre disseste que gostavas que eu continuasse a escrever.
Talvez não saibas (ou saberás?) que durante anos deixei de escrever, porque as palavras tombavam sempre para o mesmo lado, o da tristeza. Tantos anos, reprimidas as palavras, o nó na garganta, a tinta da caneta secou, as folhas ficaram amarelas (ainda não havia blogs ).
Talvez não saibas (ou saberás?) que nunca mais consegui ouvir determinadas músicas, por serem tão bonitas, por serem as tuas músicas. E as músicas que eu cantava no coro, nunca mais.... recusei a voltar a cantar no coro porque já não tinha para quem cantar, o meu melhor ouvinte da plateia, aquele que ia lá só para me ver. Que tossia no intervalo das músicas para que eu soubesse que estava lá, naquela sala cheia de gente. Tudo isso acabou.
Talvez não saibas (ou saberás?) que ainda hoje tremo sempre que oiço a sirene duma ambulância, que isso ainda me aconteceu a semana passada, e já lá vão quase dezasseis anos.
E tantas, tantas outras coisas....
Que aos poucos e poucos vou escrevendo, neste meu cantinho de desabafos e nostalgias.

3 Comments:

Blogger Isis said...

Querida a melhor coisa do mundo é liberar aquilo q a gente sente... seja com escritas, com palavras ou gestos... Muita luz para ti!

3:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

GOSTEI ANA C. G. DE ALF.

2:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Quando faleceu o meu querido Pai estava de férias no Algarve. Chamaram-me pela aparelhagem sonora e deram-me de imediato a notícia. Ainda hoje recordo o choque que sofri e a viagem até Évora, conduzindo e chorando. Eu sabia que qualquer dia iria acontecer mas, recusava acreditar e temia pela ruina da Família porque sabia que o meu querido irmão José também estava de partida.
É a vida com toda a sua realidade.
Com três letrinhas apenas se escrevem as palavras MÃE e PAI.

10:28 da manhã  

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