quinta-feira, julho 21, 2005

Querido Paizinho - parte II

Em 1990 eu era ainda uma miúda, e ainda não sabia muito bem o que queria fazer da vida. Estava a tirar um curso de que não gostava. Trabalhava em OTL para ganhar uns troquinhos para as saídas à noite.
Passava a vida a escrever poemas e textos surrealistas, que ainda hoje tenho guardados em livrinhos de capas bonitas, hoje rasgadas e amarelecidas e que cheiram a baú. Tinha muitos conhecidos e poucos amigos. Ainda não tinha computador muito menos sabia o que era a internet e por isso as minhas noites eram passadas a ler e a escrever e a criar personagens diferentes conforme o estado de espírito.
Se era feliz....? Era....porque tinha o céu cheio de estrelas só para mim, só que eu não o sabia e vivia aninhada entre as 4 paredes do meu quarto, a escrever nas entrelinhas tudo aquilo que sentia e que não tinha a quem contar.
Nesse dia de 1990, eu estava na praia, a trabalhar nos OTL's. Tinha-lhe dado um beijo de manhã, e um até logo, porque temos sempre esperança. Ele disse-me que eu "era muito bonita".
Nunca mais o vi. Nesse dia à noite, escrevi o último texto, e fechei o livro para sempre.

Hoje passados 15 anos, cheguei à conclusão de que ainda sou uma miúda. Já mais crescidita porque tem de ser, com outras responsabilidades, emprego estável, casinha e casadinha.
Esta dedicação aos bichos veio preencher a necessidade que sempre tive de me entregar, sem esperar algo. Somos mais felizes quando damos do que quando recebemos.
Ainda só tive desilusões com as pessoas, mas nunca as tive com os animais. Talvez por isso eles sejam parte tão importante da minha vida.

Querido Paizinho, talvez eu nunca tenha tido oportunidade de te dizer, mas a força que tenho hoje, ganhei-a contigo. Foi assim, devagarinho, durante quinze anos, mas aos poucos tenho conseguido chegar cada dia mais longe.... criar as minhas asas e voar em universos que são só meus.....atravessar mares e oceanos, afundar-me e ressuscitar, cair, tropeçar, erguer-me e saltar barreiras.
E nunca esqueci as tuas palavras....

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Fazes bem em desabafar Ana.
Ás vezes é mais facil escrever que falar não é ? Eu sei porque só escrevendo é que tenho coragem de te dizer que perdi o meu pai á 8 anos e ainda não consigo falar sobre isso. O meu pai partiu desta vida nos braços de quem mais gostava ... a sua mãe,as suas filhas e a sua mulher. Todas nós ficámos a saber o que é perder alguém nos nossos braços e não poder fazer absolutamente nada. É uma impotência. Só assim nos apercebemos como somos pequeninas perante o universo.
Num segundo temos connosco uma pessoa que amamos e no outro vêmo-la partir ...
Desculpa o testamento mas o teu desabafo deu-me vontade de desabafar também e como não consigo fazê-lo a falar com ninguém ...

9:43 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tocou-me bastante este desabafo, que veio reavivar mais as saudades que sinto do meu pai que perdi há 11 anos.
Não vou dizer mais nada porque não consigo.
Que os nossos pais e todos aqueles que já partiram estejam rodeados de LUZ e que nos iluminem a nós.
Beijinhos
Lupita

4:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Por isso agradeço a Deus ainda ter o meu do meu lado e fico triste quando me apercebo das injustiças para com ele, ou das discussões, ou mal entendidos:(( Qualquer dia ele vai partir e todos os dias deviam ser passados com grande alegria.

11:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Fiquei de lágrimas nos olhos... daquelas que dançam por lerem coisas bonitas. Essa força nunca a perderás, Ana. Um beijo grande..

10:27 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Anitas, chorei muito... já há um tempinho que não vinha ao teu cantinho e quando leio este teu post, fazes-me lembrar o famigerado dia em que o meu pai teve um AVC (vulgo "trombose"). Ele felizmente está vivo, está cá, ainda o posso ver... mas uma parte dele morreu há muito tempo e assim como uma parte dele morreu, outra parte de mim morreu nesse dia...
E dos sonhos que falas e dos textos que lias e escrevias, tudo isso me soa tão familiar...
São tão lindos os sonhos... tenho a certeza que por onde quer que tu sonhes, teu pai estará sempre para te dizer o quanto bonita tu és. E tu sabes que és.:) Eu quando olho para o meu pai hoje não me lembro tanto de palavras, mas mais de lugares... lugares que a memória não esquece, mas quando se passam por eles, acende-se a dor em nós de por circunstâncias várias não podemos lá voltar... e era tão bom voltar atrás, mas a vida e o tempo são sempre para a frente! Sempre e o destino está marcado... Beijinhos doces, Ana

6:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Oi! Caí no seu blog por acaso e me emocionei muito com este texto, que tem muito a ver com o que eu sinto em relação a animais, mas nunca coloquei num papel, muito menos de uma forma tão bonita quanto você escreveu.
Um abraço brasileiro e parabéns por ser uma pessoa tão especial!

7:02 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Outra coisa, perdi o meu pai recentemente (27/1) e sinto muita saudade. (Ontem foi um dos dias de muito choro para mim.) E ele também era uma pessoa que amava os animais e sempre incentivou as filhas nos "salvamentos" a animais. Bjs

7:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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12:11 da tarde  

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